quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Ânsias de contar

Somos seres que compartilham o que pensam e sentem. Gostamos muito de contar histórias, por exemplo. Passamos a adorar fazer isso quando as histórias revelam algo de nós. Assim como amamos quando elas desvendam algo dos outros, do próximo. Daí temos o sucesso de reality shows, das redes sociais e dos comunicadores instantâneos.

No entanto, esse juntar de nosso desejo de partilhar o que somos com as ferramentas que a tecnologia oferece pode render um emaranhado de confusão. Quando temos amigos e acesso fácil a eles por um smartphone, tudo pode acontecer. Às vezes partilhamos apenas as idiotices cotidianas. Que tal uma selfie do seu lanche da tarde, por exemplo? Mas revelar seu cardápio não deve causar problemas, a não ser que você envie uma foto de uma bela picanha para a lista de amigos que inclui seu cardiologista. Futilidades são futilidades.

Amizades mais próximas, situações emocionais complexas e acesso fácil por internet, ah, isso sim pode gerar problemas. Antes, quanto estávamos envolvidos em uma situação difícil, podíamos procurar um amigo para conversar. No entanto, isso não era instantâneo. Havia tempo para mensurar toda a situação até que você fosse encontrar seu amigo ou falar com ele por telefone. As palavras então sairiam mais medidas, cuidadosas, bem pesadas. Muito do que poderia ser dito em um momento de crise era editado, cortado pelo bom senso, pela razão. Mas hoje corremos o risco de estar em dificuldades e logo clicar no celular para recorrer ao amigo mais próximo. Na agitação do momento, acabamos por falar o que não desejamos. Dizemos coisas movidos pela emoção, muitas vezes, desprovidas de sentido.

Um antigo provérbio diz: "A palavra é prata, o silêncio é ouro". O filósofo Blaise Pascal afirmou: "a maior parte dos problemas do homem decorre de sua incapacidade de ficar calado". Sentenciou o grande Machado de Assis: "Há coisas que melhor se dizem calando". Na Bíblia, a carta de Tiago adverte: "... a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva". E minha avó já dizia: "Quem fala muito dá bom dia a cavalo". Ironicamente, todos esse sábios conceitos foram verbalizados, ditos.

Falar sobre o que acontece conosco, contar histórias, não é ruim, até certa medida. Tudo o que dizemos e expomos precisa ter equilíbrio. A regra de pensar duas (ou mais) vezes antes de falar ou escrever ainda é muito válida. Um problema também significativo quanto a textos é que parecemos estar sempre tentando ver algo nas entrelinhas. Muitas vezes não existe nada nelas, simplesmente escrevemos o que pensamos. Mas corremos o risco de que insiram coisas nas entrelinhas vazias e sejamos interpretados de modo incorreto.

Expressar o que vai por nosso coração é uma das coisas mais agradáveis de se fazer. Podemos encontrar empatia, auxílio, fazer catarse. Falar, escrever, conversar... Que coisa boa! Mas há riscos. Podemos nos expor demais ou a outra pessoa, e talvez ser mal interpretados. Portanto, faça com moderação.

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